Entendendo como não foi fácil chegar onde eu estou hoje e a diferença que eu posso fazer no amanhã da nossa comunidade.
Eu nasci em 1989. A filha mais nova de uma família classe média paulistana, com duas irmãs mais velhas e uma mãe leonina. E, com esse contexto, já dá pra imaginar que quem mandava lá em casa era minha mãe. Desde que eu me lembro como gente, lembro dela trabalhando. Poderia pintar uma história bonita aqui de como ela era uma super mãe, mas a gente sabe que a vida não é conto de fadas. E minha mãe era apenas…humana. Tinha suas qualidades, mas tinha todos os seus defeitos também.
Lembro de como ela inventava e se reinventava cada vez que algo na sua empresa não ia bem. Lembro do stress que era em casa por conta disso e como acabava por respingar na gente. Lembro como muitas vezes senti que ela se importava muito mais com o trabalho dela do que com a família. Mas hoje, com a maturidade que eu tenho, consigo enxergar que era na verdade o peso da responsabilidade. Responsabilidade de ajudar a botar comida na mesa e pagar escola e ballet para três filhas, por ser empreendedora em um mercado bem complexo e, acima de tudo, de ser o exemplo e preparar três meninas para um mundo que não era “feito” para as mulheres.
Quando se nasce mulher, você já nasce com uma carga mental.
Desde criança você aprende que precisa se comportar bem, que precisa estar bonita, aprende tudo que a sociedade espera de você. Você precisa saber organizar uma casa, precisa saber cozinhar o básico que seja, precisa ter uma família do tipo de comercial de margarina, precisa ser incrível no trabalho, precisa ser mãe algum dia, precisa… precisa… Tantas obrigações, tantas expectativas, tantas cobranças acabam por criar um sentimento de incapacidade na gente. Talvez seja por isso que a síndrome do impostor atinge muito mais mulheres do que homens.
Eu convivo e luto até hoje com uma síndrome de impostora, muito alimentada pela criação que tive com a minha mãe. Ao mesmo tempo que sei que tenho competência total para estar onde eu estou, ainda escuto, no fundo, aquele sentimento de que “nunca o que eu faço está bom”. Ele fala sem parar sobre minhas dúvidas, minhas vulnerabilidades, sobre tudo que poderia estar fazendo melhor… e isso é TÃO cansativo.
Por minha mãe querer preparar eu e minhas irmãs para esse mundo doido, a cobrança e julgamento sempre foram altos. Talvez tão altos que me ensinaram que cobrança excessiva pode ser muito prejudicial para qualquer pessoa e para qualquer relação. Acredito que ter vivido esse outro lado da moeda me fez ser uma melhor líder para o meu time hoje.
A vida de uma líder de Design
Hoje trabalho na liderança no time de Design da Neon. Um time completamente diverso, que tenho muito orgulho de dizer que não faz diferença entre raça, gênero ou qualquer outro fator. Aqui somos apenas pessoas procurando fazer o melhor para os nossos clientes.
Também tenho a sorte de trabalhar em uma empresa que se importa com isso e que tem uma comunidade feminina extremamente unida, uma rede de apoio que nunca encontrei em outro lugar. Ao ouvir relatos de outras mulheres do meu time, falando sobre a importância de ver uma mulher no papel de líder, de ser uma referência para elas me enche de orgulho sabe? Traz o sentimento de que, não importa o quanto eu duvide de mim mesma, eu estou trilhando um bom caminho.
Mas, ao mesmo tempo que me sinto orgulhosa de ser esta referência, esse cargo também é, muitas vezes, solitário. Precisamos entender as qualidades e também as fraquezas nossas e do nosso time. Precisamos conseguir discutir sobre métricas de negócio com o Gerente de Produto e, ao mesmo tempo, ajudar alguém do seu time a fazer um mapeamento de jornada do cliente ou prototipar uma solução. Precisamos ser o filtro da quantidade certa de a pressão de prazos e do atingimento das metas da empresa para que as pessoas não se sintam desestimuladas ou tenho uma crise de ansiedade.
Precisamos escutar as dores do nosso time e ajudar eles a se desenvolverem como profissionais.
E é nesse mundo de opostos que mora a solidão do líder. Precisamos doar tanto, resolver tanto para os outros, mas:
Quem é que pode escutar as nossas dores?
Quem é que pode ser o nosso suporte pras milhares de dúvidas que temos?
E quando suas questões ainda são específicas de gênero e você é a única mulher neste papel
Cadê as minhas referências?
Dá pra contar nos dedos quantas Managers e Heads temos, ainda mais se formos falar só do cenário brasileiro. Por mais que tenha aumentado e muito a presença das mulheres em cargos de liderança, ainda temos muito caminho para trilhar quando se fala em igualdade.
Como mulher, eu quero construir um futuro de igualdade. Igualdade de oportunidades, igualdade de segurança, igualdade de confiança no trabalho realizado. Um futuro onde reconhecer sua vulnerabilidade não seja visto como uma fraqueza. E, se conseguir fazer um pedacinho disso que seja, então terei certeza que minha mãe vai estar orgulhosa da filha dela… onde quer que ela esteja!
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